Desde que o homem tem memória, a montanha sempre lhe despertou curiosidade. O que haverá para lá da montanha, como será estar no topo? São exemplos de algumas perguntas que fazem parte do nosso imaginário e no passado também assim era.
Por isso, costumo dizer que não sabe ao certo quando terá nascido o montanhismo. Existem relatos que os primeiros casos isolados de montanhismo ocorreram nos anos 1300 e 1400 d.C., para fins não recreativos ou desportivos, mas sim como religião ou por questões de meteorologia. Da história, o registo mais notável foi a primeira ascensão do Mont Aiguille (2.085 m) em 1492.
No entanto, o montanhismo no sentido desportivo contemporâneo nasceu quando em meados do século XVI, os europeus começaram a ter interesse nas montanhas e em conquistar os seus topos. O grande impulso do montanhismo desportivo é geralmente atribuído à conquista de Chamonix por Horace Bénédict de Saussure em 1760.
Já em meados do século XVIII, alguns montanhistas reuniram-se nos Alpes para realizarem as primeiras escaladas e ascensões a quase todos os picos da região. Estas expedições eram predominantemente lideradas por alpinistas britânicos e acompanhadas por guias suíços ou franceses.
A ascensão final, depois da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), os britânicos fizeram do Monte Everest o seu objetivo particular, enquanto montanhistas de outros países escalavam os grandes picos dos Himalaias, no ano de 1922 George Finch e Geoffrey Bruce eram capa dos jornais da época por atingir uma altura sem precedentes até então: 8.175 metros, Monte Everest, nesta fase com auxílio de aparelhos de oxigénio.
Abordarei a história mais recente do montanhismo numa outra oportunidade, querendo agora focar-me em alguns aspetos e especificidades desta modalidade.
Termo geral o montanhismo pratica-se entre os 1000 e os 2500m de altitude, acima dos 2500m de altitude a prática ganha o nome de alpinismo, continuando a ser uma vertente do montanhismo, o alpinismo para além de praticado em alta montanha, requer outros conhecimentos e especialmente equipamento próprio, o nome alpinismo pode suscitar discussão, no entanto sabe-se que deriva da zona dos Alpes e não é estranho ouvir outros nomes como Andinismo e Himalaísmo, respetivamente aos Andes e aos Himalaias.
Fica claro que o montanhismo não é uma simples caminhada mas sim uma ascensão com o objetivo claro de chegar ao topo de uma montanha, utilizando se necessário outras técnicas para além da progressão em pé.
Assim, as principais diferenças entre o montanhismo e o conhecido trekking ou walking são: o montanhismo exige uma preparação física superior assim como adaptação do corpo a altitude logo a partir dos 1000m mas obrigatória a partir dos 2500m; conhecimentos em diversas áreas como a orientação pela falta de sinalização; primeiros socorros, pois os acessos dificultam o resgate que pode demorar horas; técnicas de sobrevivência que podem fazer a diferença em certas ocasiões; técnicas de cordas ou escalada se necessário; conhecimentos em preparar a mochila, alimentação e não menos importante, conhecimentos em equipamento e vestuário.
Como podemos constatar, os riscos do montanhismo são grandes e não devem ser ignorados, noutro capítulo, falarei de cada um destes temas importantes para chegar a topo da montanha em segurança.
Por agora pretendo alertar que não deve praticar montanhismo sozinho/a em qualquer situação, que deve planear ao máximo a sua ascensão em segurança tendo em conta todos os imprevistos, deve adquirir conhecimentos sobre montanhismo e sobre o meio ambiente em que vai praticar.
Por último, acrescento que é esta exigência, esta sensação inigualável de superação, o instinto de desafio e a vontade de vencer limites e um contato com a natureza audaz que fazem deste desporto único.
Se há uns anos, olhávamos para estas pessoas como que se de tolos se tratassem, cada vez mais os conseguimos perceber, que tudo parece possível para o homem, menos vencer a Mãe Natureza.
Lembre-se dos riscos mas disfrute da vista!
Bruno Rodrigues